quinta-feira, 15 de março de 2012

Dia reflexivo

Acho que era tudo ficção. É, vai ver era tudo ficção mesmo. Toda aquela revolução interna pela que passei hoje, todas aquelas maravilhosas sensações de clareza, todas aquelas promessas de uma vida nova, com metas novas, discursos novos e comportamentos novos, toda aquela impressão de evolução caiu por terra quando tentei tornar minha epifania em algo explicável e lógico. Não era explicável e lógico, então me calei gradualmente. E aquele suculento gostinho de inteligência e de superioridade que permeava meu ser escapou, logo que se tornou vaidade.

Talvez não tenha sido ficção, talvez tenha sido uma etapa, e todo aquele nojo que senti hoje da vida em sociedade, da futilidade das pessoas e da insanidade e das mentiras da vida social, e todo o meu anseio por fuga, por revolta, por ironia e por desdém estejam lentamente se concretizando, fixando suas bases na minha mente. E então vou poder de fato me modificar, me revolucionar e me libertar, podendo legitimar e sustentar todas as minhas atitudes com um olhar: Aquele olhar profundo, perdido e, porém, sem temores, que expõe a alma em sua totalidade. Aquele olhar descrente, ousado, que tanto almejam os artistas e tanto temem os políticos. Aquele olhar hipnotizante, sedutor, que finca e marca a alma de todos que os encaram. Aquele olhar sinceramente inconsequente e despreocupado, que poucos tiveram e que poucos ainda têm e que, no entanto, não deve passar de um símbolo, de uma falsa idolatria que carrego em minhas percepções e insisto em projetar, admirar e discretamente invejar em certas pessoas . Seria esse olhar também mera ficção?

Inteligentes mesmo eram os gregos, que, há dois milênios, já sabiam que nada sabiam, com Sócrates, e que nada faziam, com Sísifo. A filosofia existe para a felicidade, ela deve apenas servir-nos, e nós a ela, mas ela sempre tropeça nesses insuportáveis pontos. Entendo, porém, como nunca, o tanto que, como sugere Epicuro e Buda, é essencial na busca pela felicidade a filosofia.

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