quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Insensatez juvenil

Diz que o silêncio diz muito.
Diz que o silêncio diz o indizível
Diz que o silêncio conforta
Diz que o silêncio acalma

Meu bem,
O silêncio apavora
O silêncio demora
O silêncio é uma farsa
O silêncio não diz nada.

Daqui você é tão linda,
Tão linda calada,
Tão misteriosa.
Dê-me tua prosa,
Por pouca que seja,
Que ela conforta
Reduz a incerteza
Desapavora

Que pensas meu bem?
Não pensas em nada.
Seu silêncio soa sereno, sadio, sensato
Eu devia dizê-lo também,
Mas meu bem,
O silêncio é um fardo.
Diz-me mais um pouco
Pra que eu fique calado
Pra que eu sinta o sereno
Pra que eu diga o indizível

Pois o silêncio que diz
É o silêncio sincero, descansado, seguro.
Diz-me mais um pouco
Pro meu silêncio ser puro.




quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Dorian Gray 1



"O artista é o criador de coisas belas.
O objectivo da arte é revelar a arte e ocultar o artista.
O crítico é aquele que sabe traduzir de outro modo para um novo material a sua impressão de coisas belas.
A mais elevada, tal como a mais rasteira, forma de crítica é um modo de autobiografia.
Os que encontram significações torpes nas coisas belas são corruptos sem sedução, o que é um defeito.
Os que encontram significações belas nas coisas belas são os ocultos: para esses há esperança.
Eleitos são aqueles para quem as coisas belas apenas significam Beleza.
Um livro moral ou imoral é coisa que não existe. Os livros são bem escritos, ou mal escritos. E é tudo.
A aversão do século XIX pelo Realismo é a fúria de Caliban ao ver a sua cara no espelho.
A vida moral do homem faz parte dos temas tratados pelo artista, mas a moralidade da arte consiste no uso perfeito de um meio imperfeito. Nenhum artista quer demonstrar coisa alguma. Até as verdades podem ser demonstradas.
Nenhum artista tem simpatias éticas. Uma simpatia ética num artista é um maneirismo de estilo imperdoável.
O artista nunca é mórbido. O artista pode exprimir tudo.
O pensamento e a linguagem são para o artista instrumentos de arte.
O vício e a virtude são para o artista matérias de arte.
Sob o ponto de vista da forma, a arte do músico é o modelo de todas as artes. Sob o ponto de vista do sentimento, é a profissão de actor o modelo.
Toda a arte é, ao mesmo tempo, superfície e símbolo. Os que penetram para além da superfície, fazem-no a expensas suas. Os que lêem o símbolo, fazem-no a expensas suas.
O que a arte realmente espelha é o espectador, não a vida.
A diversidade de opiniões sobre uma obra de arte revela que a obra é nova, complexa e vital.
Quando os críticos divergem, o artista está em consonância consigo mesmo.
Podemos perdoar a um homem que faça alguma coisa útil, conquanto que não a admire. A única justificação para uma coisa inútil é que ela seja profundamente admirada.
Toda a arte é completamente inútil."

Oscar Wilde

domingo, 9 de dezembro de 2012

Diavadio

Terno domingo,
Silencio vazio
Triste sorriso
Longo suspiro
Senhor da espera
Senhor da taberna
Paz na terra e vida eterna
E morte em vida
Fúnebre preguiça
Frívolas horas
Doce desperdício
Ser é sacrifício e pensar é ofício
E pensar demora
Demora pra caralho
Terno e vadio,
Domingo é grisalho.

Ouço o som do pecado,
Da culpa e da tristeza,
Ouço harmonia e beleza
E ouço a ironia do planeta

Vejo a morte chegando sorrindo e espero
Deixe ela chegar mais perto
E deixe o domingo seguir terno

http://www.youtube.com/watch?v=YuM3SteeAgY


Sem lenço, sem documento, sem direção.

Me mataram.
Há alguns meses me mataram
E agora vivo feito morto
Vago inerte por ai
Entre o absurdo dos vivos
Entre o vazio dos versos
Me tornei a parte do universo
Me tornei carta branca
Nada sei e nada quero
Nada levo a sério
Sou um morto sem cemitério
Um estrangeiro neste plano
Um estranho entre os humanos
Entre as paixões o os jogos sociais
Deixei a vida para traz
Por não tê-la compreendido
Porque tanto faz
Porque somos todos Sísifo.




sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Você vale um tanto
que não vinga redizer
Redemonstrar, Recair.
Não valho pouco assim
Me retenho em descrição, em serenidade forjada,
Sou quase um fugitivo e minha cabeça não vale nada.

Porém,
Por entre os tragos de cigarro e os goles de café
Meio ao descompasso das noites mal dormidas,
Meio à memória e à baixo auto-estima
Vingam enfim, mas por poucos segundos,
Os meus insanos olhares,
Os meus tristes suspiros,
O medo,
O conflito
Para que então revejas, relembres, repares
Te desejo um tanto que não vales.
Ninguém vale tanto assim.

Vejo todo movimento teu em meus olhares de lado,
Sinto toda a sua espontaneidade, enquanto me retenho calmo
Não sei se és ingenua ou indiferente,
Se és tão segura ou se também és fugitiva,
Mas de que vale os meus escudos
Meio a tantas recaídas?
E ela nem vale tanto assim
Reafirmo a todo instante,
Mas no segundo em que me distraio
Assim que a loucura fala mais alto
Sinto de novo o arrepio,
Tremo,
Suspiro,
Revivo toda a tensão
Todo o conflito.
Toda a enrascada
Aqui não valho quase nada.

Sinto um desconforto,
Um gosto amargo,
É melhor me recompor
É melhor dar outro trago.
Ela não vale tanto assim.
Ninguém vale tanto assim.







terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Sobre a concentração.

Pow, é o lapso de consciência de novo. É engraçado como de repente retomo a consciência de mm, consciencia da minha consciência, da minha própria existência e da minha existência separada da existência do resto do mundo. Vou vendo um filme, me entretenho, fico aflito, feliz, assustado e outras coisas com o decorrer do filme e de repente, POW. Percebo a distância, ou melhor, invento a distância entre eu e o filme, entre sujeito e objeto, crio um muro, uma represa entre o universo externo e o meu universo, chamo-me de eu, eu necessariamente diferente do filme, do protagonista, do diretor, de todo o resto do universo. Me percebo e rio, e logo em seguida, tento concentrar-me, esquecer-me para ver o filme.

Me lembrei rapidamente de "Penso, logo existo", frase chave do estilo de vida ocidental moderno, onde o indivíduo está acima de tudo e de todos, a "pirmeira verdade". "Penso" já está conjugado com o pronome eu. A existência pressupõe um "eu penso", "eu tomo consciência de mim, da minha existência" posso estar sonhando, posso estar alucinado, posso estar sendo enganado, mas é inegável que eu, consciente de mim, existo. As condições necessárias para minha existência são que EU(primeira condição) PENSO(segunda condição). Por isso que a concentração extrema, que dissipa os muros entre as realidades externa e interna, que reconhece o vazio do ego, que se livra dos conceitos estáticos(pensamento) e aceita a realidade como um fluxo impermanente e sem forma, leva ao "estado de não nascido", por isso que nos liberta do ciclo do karma. Por isso também, que, como dizem as más línguas, meditar é parar(ou tentar parar) de pensar, ou seja, parar de existir, parar de perceber-se. Vemos isso claramente na frase"Conhecer-te a ti mesmo é esquecer-te a ti mesmo"