sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Cresça e Desapareça

Do kaimã

O que interessa é a precisão da vela
Pouco importa que reste só em alto mar
Antes se perder das outras caravelas
Que esquecer-se de seu lugar

"Tua consciência é tua majestade"






quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Da melancolia.

Pro que fica, fica o papel, a tortura
Pra que vai, sobra o mundo,
Seus outros assuntos, que por desventura,
-Ou pela lei natural dos acasos-
Deixa um de sobra, em pensares profundos.
Ou devo chamar-lhes rasos?
Pois por mais que pareça desnudo
Esse sujeito "indefeso", desolado
Ainda vejo um fino escudo
Que resta sobre esse poeta, solitário.
E é dele que escreve,
E é dele que vive
É por ele que fica no papel,
E por ele permanece em declive.

"Os poetas turvam todas as águas para parecerem profundas"
Nada mais raso que o indivíduo, crendo-se sozinho
Que o egocentrismo, ainda mais despido de auto-estima.

sábado, 17 de agosto de 2013

Nem nirvana nem samsara.

Bicho podre
Bicho vesgo
Amar ao próximo e odiar-se a si mesmo
Bicho esnobe,
Bicho pobre,
Bicho torto
Amar a si antes que os outros
Finjes de morto,
Bicho podre
Bêbado em dissimetria
Tombante em avenida
Ama-te antes dos outros te amarem
E ame os outros,
feito amor de bicho solto
Desenvolto do laço de forca
Que pôs todos a segurar
Direciona logo teus passos,
Ou te entregues ao penar.
Feito um bicho vivo,
No estado de já nascido
Nas máximas da cultura
Paciente a espera do cais
Guardando os pilares da velha loucura.
Pois esta nova,está distante demais.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

O amor e sua miséria

Acordei com a agulha no peito
Vi a falta e vi de onde veio
Vi o amor feito de migalhas
De elogios, provas e testes
Servindo de alicece às vaidades
Ao autoapreço e às suas pestes
Vi amantes feito mendigos
Não pela liberdade da não posse,
Mas ao contrário,
Pelos vícios e pela esmola
Rastejando por poucas provas
Insuficientes, cegos, sem respeito.
Não vêm que são eles, que lhe espetam o próprio peito.
Usam do amor feito fosse ópio,
Não pela transcendência e pela criatividade,
Mas pela dependência e pelo escape.
Fazem do transe um desastre
Da percepção à paranoia
Usam a mescalina
E desperdiçam o que mais tem de divina
Sobrevivem na escória,
Na mais mesquinha experiência
Sentem a desunião, a descomunhão
E chamam de carência.
Mas hei de converter,
Esse peito ignorante
Sejamos pacientes,
Mas não deixemo-nos descrentes.
A passos constantes,
Corajosos e curiosos
Deixarei os tons terrosos
Para as vivas cores do instante.

Sono.

Hora de cuspi
Fodasse
Foda-se
Sono, muito sono
Hora de cuspir outro idioma
Sinto, sinto muito
Ou nem sinto,
Nem sei.
Fodasse.
Mas pra poesia,
Pra bela poesia
Precisa-se de saúde
Precisa-se de sinapses
De oxigênio no cérebro
E de sentido
Claro que a poesia é feita de confusão
Mas é preciso de um agente com sentido
Não que alguém faça sentido, ninguém faz.
Mas é preciso de uma sanidade mental
Um fundo lógico mínimo
Que faça o poeta não se esquecer
Que seu texto não é um relatório
Claro que tudo vale,
A arte é um sanatório.
Mas o que digo
É que em todo caos há uma lógica,
Não obstante toda lógica é um caos.

Cuspido,
Pronto,
Me sinto melhor.
Vou dormir.
Fodasse.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

O copo cai. Cada caco de vidro é uma oportunidade. Acordei sozinho ao seu lado hoje de manhã. Completamente sozinho ao seu lado. O verdadeiro inferno é a insegurança e a carência. A verdadeira dor é a falta. Não consigo dormir, não consigo parar de balançar a perna, não consigo me concentrar, não consigo sorrir, não consigo saciar a minha vontade de gritar e nem a de escrever e ainda duvidam que a única coisa que importa é o amor. Sem ser piegas, sem ser clichê, quero dizer com amor sexo, carinho e romance. Principalmente carinho e romance. Não consigo pensar em outras pessoas, embora eu saiba que existam, e que são iguais a você, e que posso querê-las igual quero você. O amor é a nova religião, e a razão não me serve de vacina, como me serve pras outras. Não me adianta perceber o quão ilusórias são minhas impressões acerca de ti e de nós, não me adianta ver que isso nem diz respeito a nós, mas só à minha insuficiência, não me adianta saber de nada disso, continuo projetando felicidade em você igual um imbecil. É o resto da magia e do encantamento que deixo guardado debaixo do travesseiro, meio ao desencanto da modernidade. Cada romance vem como um novo Deus descoberto, e cada colapso de romance vem como o baque do desencantamento no religioso, com todo o seu niilismo, seu vazio e sua falta. Mas o religioso não sai buscando outros deuses, não normalmente. Já o amante...

sábado, 3 de agosto de 2013

O que sobre da fase atual

E toda a solução era só a meditação. Pouco importa, de fato, ela, ele, eles, nós, medita que não te atingem mais. Nada melhor que me livrar de todas as circunstancias e deixar o mundo impermanente, sem perenidade, sem instituição, sem saudade, sem esperança. Medita, até que pouco te importe você, e só te importem eles. Então ficarás inatingível e verás a brincadeira que são seus dias e suas relações.